O bebê mal nasceu, mas a mãe já está preocupada: como vou fazer depois que voltar a trabalhar? A criança tão novinha, a necessidade em manter o aleitamento materno exclusivo por mais tempo, as horas e horas fora de casa, a cabeça que está, ainda, no bebê. Como fazer?
A maioria tem apenas quatro meses de Licença Maternidade. Algumas ainda conseguem esticar por mais um mês, com as férias. No máximo, cinco meses e 15 dias, se a empresa aceitar a chamada “licença amamentação”. Após esse período, com o retorno ao trabalho, vem a expectativa de “retomar a antiga vida”. E uma surpresa: não existe retomar vida nenhuma, pois essa mulher, agora, é outra. É impossível deixar de pensar no bebê nas oito horas diárias de trabalho – no máximo, a mãe vai conseguir desconectar da cria em intervalos um pouco maiores.
Seja por desejo ou por necessidade, voltar ao trabalho é um desafio para a mãe. Mais ainda quando se decide manter o aleitamento. E aí constata-se que, como no provérbio africano, se é preciso uma aldeia para educar uma criança, as empresas – chefes e colegas de trabalho – também precisam estar nesta tal aldeia.
Como a empresa pode ajudar
Talvez a forma mais simples de uma organização demonstrar apoio para a mulher que decide manter a amamentação está em oferecer horários realmente flexíveis. Ou mesmo a oportunidade de atuar alguns dias em home office. Dessa forma, a mãe pode ter uma jornada de trabalho reduzida (carga horária/dia) e, no caso do trabalho remoto, conseguir passar mais tempo com o bebê – ou até mesmo um dia inteiro, ou dois, ou três a mais na semana.
Além disso, pode-se pensar em um espaço para a mulher ordenhar seu leite no ambiente de trabalho – uma sala simples, pequena, com uma cadeira ou poltrona, tomada e uma geladeira, que pode ser a mesma da copa é o suficiente. Assim, ela pode tirar o leite que será oferecido ao bebê durante sua ausência com o mínimo de conforto e muito mais higiene do que se fizesse isso no banheiro (acredite, essa é a realidade da maioria das mães que voltam ao trabalho e decidem manter o aleitamento).
Os colegas de trabalho e os chefes diretos podem ajudar simplesmente não atrapalhando! A mulher terá horários mais ou menos fixos para fazer as ordenhas (isso é muito importante para a produção de leite). Que tal lembrar disso, ou perguntá-la ao invés de marcar aquela reunião no mesmo horário? Também é fundamental não achar que a mulher está com “folga de horário”, por tirar alguns períodos do dia para fazer a extração do leite! Lembre-se que ninguém questiona o tempo que um funcionário fumante gasta fora da sala por sair para alimentar seu vício.
Amamentar um bebê não é uma tarefa fácil. É necessário apoio, acolhimento e compreensão. Não só para o ato de amamentar, mas também para retornar ao trabalho e conciliar a vida profissional com a maternidade, caminhando para um equilíbrio possível, apesar de complexo. Quando a empresa, os chefes e colegas se dispõem a participar disso, a mulher só tem a ganhar, tanto como funcionária, quanto como mãe. E a empresa, claro, também.
Legislação, trabalho e maternidade
Para que as mulheres trabalhadoras consigam seguir a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde de amamentar por 2 anos ou mais, sendo exclusivamente no peito nos 6 primeiros meses, é fundamental que haja apoio dos empregadores após a licença maternidade.
Desde a Constituição Federal de 1988, mulheres empregadas com contrato de trabalho formal têm direito a alguns benefícios previstos em lei que podem ajudar no período de amamentação. Além disso, cada relação de trabalho pode ter benefícios próprios.
O apoio pode vir em forma de extensão da licença, aumentando o tempo de 4 para 6 meses e permitindo férias na sequência; de redução da carga-horária e/ou flexibilização de horários; ou mesmo permitir que a funcinária leve o bebê para o trabalho, para que seja amamentado. Oferecer um ambiente confortável e propício para fazer as ordenhas no local de trabalho, também é uma excelente forma de demonstrar suporte!
É determinado por lei:
- Licença maternidade: a Constituição de 1988 garante para todas as mulheres trabalhadoras sob o regime CLT o direito a 120 dias de licença.
- Creche ou berçário: os estabelecimentos em que trabalham pelo menos 30 mulheres com mais de 16 anos de idade deverão ter local apropriado onde seja permitido às empregadas deixar, sob vigilância e assistência, os seus filhos durante a amamentação. É possível substituir por reembolso-creche ou convênio com entidades públicas ou privadas.
- Até o sexto mês de vida do bebê, a mulher tem direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho, além dos intervalos normais para repouso e alimentação. É possível fazer um acordo e juntar os dois intervalos para que a mulher entre mais cedo ou saia mais tarde do trabalho.
- A critério médico, as pausas poderão ser ampliadas até após o 6 meses, quando a saúde do bebê exigir.
Lembre-se: bebês amamentados com leite materno possuem melhor resposta imunológica, ou seja, ficam menos doentes e se recuperam mais rapidamente. Ou seja, a mãe se ausentará menos do trabalho por doenças do bebê.
(Esse texto foi publicado originalmente na Revista Bússola do Empreendedor)